Arqueólogos desafiam o que sabemos sobre a cidade destruída pelo Monte Vesúvio
Será que os “corpos” que vemos em Pompeia são realmente restos mortais preservados da tragédia histórica? A professora de clássicos da Universidade de Cambridge, Mary Beard, oferece uma explicação direta e surpreendente: “A verdade é que esses objetos não são, de fato, corpos”, afirma ela. “Eles são fruto de uma engenhosidade arqueológica desenvolvida na década de 1860.” Em outras palavras, o que conhecemos como corpos petrificados são, na verdade, moldes criados a partir de espaços vazios deixados pelos habitantes durante a erupção.
Desde o final do século XVI, arqueólogos vêm realizando escavações na região de Pompeia, liderados inicialmente por Giuseppe Fiorelli. No entanto, só a partir do século XIX os pesquisadores começaram a identificar uma série de cavidades e buracos na camada de cinzas que recobriu a cidade, que continham restos humanos. Esses espaços vazios foram formados quando o material vulcânico cobriu os corpos, endurecendo ao redor deles. Com o tempo, o tecido e os órgãos internos desses corpos decompuseram, deixando uma impressão exata do formato dos cadáveres no momento da morte.
Foi então que os arqueólogos perceberam que, ao despejar gesso de Paris nesses espaços, era possível criar réplicas exatas dos corpos dos habitantes de Pompeia. No entanto, esses moldes de gesso, que hoje são exibidos nos museus, não são corpos reais, mas sim “anticorpos”, como descreve Beard. Eles são representações modernas, embora impactantes, das pessoas que viveram na antiga cidade romana.
A reconstrução de Pompeia sofreu outro revés significativo durante a Segunda Guerra Mundial, quando mais de 160 bombas foram lançadas na região, destruindo partes da reconstrução feita no século XX. “Foi um verdadeiro desastre”, escreveu Beard, observando que o que vemos hoje é, em grande parte, uma reconstrução de uma reconstrução.
Beard destaca que Pompeia, como a maioria dos sítios arqueológicos clássicos, é o resultado de um esforço conjunto entre conservadores e restauradores modernos e os construtores romanos da época. A arqueologia e a história unem-se para dar forma ao que vemos hoje, e, embora esses moldes não sejam corpos reais, eles continuam a emocionar e impressionar quem os observa